É muito difícil ser filho! E, para mais, ser filho e adolescente ao mesmo tempo. Porque a adolescência é muito mais do que um corpo que se multiplica a uma velocidade vertiginosa e que torna o nariz ou as ancas mais exuberantes do que deviam ser. É muito mais do que as borbulhas que se atropelam numa pele que insiste em ser sebácea. E vai muito além dum apetite que oscila entre uma contenção ascética e uma gula desmedida. E não se esgota numa cabeça que se expande e surpreende e desafia. Nem se distancia numa nova família de amigos (concorrendo com a original), que se revela encantadoramente nos seus gestos solidários ou nas suas cumplicidades surpreendentes. Porque há quem pense que tudo isso definha um dia: paixões e sonhos, prioridades e projetos, laços e gestos, brio e orgulho, integridade e coerência. É muito difícil ser filho. e ser filho e adolescente ao mesmo tempo. Porque é difícil imaginar sequer que, para se crescer, a adolescência tem de morrer. Como se se pudesse estar vivo por dentro - ou fosse possível ser mãe ou pai - sem se ser filho e adolescente ao mesmo tempo.
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