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Bairro Ocidental, novo livro de Manuel Alegre


Bairro Ocidental 50 anos após a Praça da Canção. O dizer do “mal português e do mal europeu” no exacto peso das palavras. O poeta avisa que este é um livro contra a contaminação da linguagem, a degradação da poesia e o declínio nacional: "É tanto uma revolta como uma luta pela reabilitação da linguagem poética numa Europa menos pervertida."

É um dos livros mais rebeldes deste terceiro milénio sobre os portugueses e o seu país. Estranhamente, dada a temática, não se apresenta esta nova obra em forma de ensaio ou de investigação, mas sim em poesia. O que tendo em conta o autor, Manuel Alegre, não é de admirar.


Dividido em três partes, é na inicial que Alegre faz o discurso poético mais desesperado e explícito: "Entre nós e amanhã há uma taxa de juro/ uma empresa de rating Bruxelas Berlim." Se este poema contém uma linguagem pouco habitual em Alegre - seguem-se noutras poesias troika ou Eurolândia, por exemplo -, já o mesmo não se pode dizer da toada utilizada em vários poemas, a exemplo dos cinco segmentos do já referido, Pátria Minha, onde ressoa o tom cantabile das trovas do seu livro de 1965 (Praça da Canção).


Intitulado Bairro Ocidental, o mais recente volume de poesia de Manuel Alegre acaba por fechar um ciclo de intervenção pela palavra, que teve início com o seu primeiro livro, aquele que se tornou símbolo contra a situação nacional no anterior regime. 


Sendo um livro pequeno, havia muitos mais poemas para publicar, mas Manuel Alegre quis que fosse curto e só com os escritos dos últimos dois anos. Esteve até para conter apenas os primeiros doze poemas que abrem esta edição. 

O poeta avisa que este é um livro contra a contaminação da linguagem, a degradação da poesia e o declínio nacional: "É tanto uma revolta como uma luta pela reabilitação da linguagem poética numa Europa menos pervertida."


Bairro Ocidental é um novo corte da sua carreira literária?

Há coisas que não se dizem através de discursos políticos e que só a poesia á capaz. Na primeira parte do livro tentei exprimir poeticamente o mal português e o mal europeu, bem como a fase declínio de Portugal e da Europa em que estamos e nos faz sentir mal por ausência de esperança. 


Estão os portugueses sensíveis para a expressão disso na poesia?
Fiz algumas experiências que mostraram que sim, como a de ter lido alguns destes novos poemas no Centro Cultural de Belém e ver a reacção das muitas pessoas que lá estavam. Depois estive em Itália e as pessoas reagiram da mesma maneira. Ou seja, é algo que está dentro das pessoas, porque mesmo que pareçam adormecidas e conformadas reagem hoje como na altura da Praça da Canção. 


Mesmo sendo épocas diferentes?
Não há fardas à vista mas existe esse sentimento contra o declínio do país das navegações, de Os Lusíadas e da Mensagem. A resposta é a poesia, que volta a ser necessária para reagir a estes tempos. Quando surgiu a Praça da Canção havia mais partilha em vez da internet e da grande fragmentação social do presente e eu tinha a sensação de estar a escrever o que estava mais próximo das pessoas.


Não estranham ouvir palavras pouco poéticas em certos versos?
É um mau presente para utilizar uma expressão camoniana. É tempo de os poetas reabilitarem a força da palavra poética, porque também houve uma degradação da poesia com o pós-modernismo. Em que se fala do quotidiano, da taberna e do vómito, em vez de dar à palavra o poder de agir sobre as coisas. Não há mudanças sem uma poética da mudança.


É por isso que escreve “Apetece pegar no poema / e disparar”?
Disparar a indignação e a revolta e exprimi-la colectivamente.


Mesmo assim não ignora os temas mais clássicos. Cassandra e Príamo estão presentes, tal como o cavalo de Tróia, que agora é datroika. Fazem falta ao poeta?
Por incrível que pareça, esse poema resulta da imagem televisiva de uma rapariga que queria impedir a entrada da delegação da troika na sede de um partido político. Ela estava sozinha e era uma verdadeira Cassandra, tanto que foi preciso os seguranças levarem-na para se calar. Perante a indiferença, ela gritava e denunciava o cavalo de Tróia que está dentro da Europa e do nosso país.


Como reagir a isso? 
É outra vez o momento da arte e da palavra poética com força. E não tem de pedir desculpa por intervir e acreditar em si mesma. É preciso acreditar na poesia e não dar importância aos teóricos que têm uma suspeição sobre a poesia. Então para que é que escrevem? Escrevem uns para os outros? Escrevem clandestinamente para se ouvir? Não vou pedir desculpa por ser muito ouvido e muito lido, porque se tenho essa sorte é uma situação que deve ser utilizada para exprimir poeticamente o mal-estar que está dentro das pessoas.


Acredita que essas palavras terão eco junto dos leitores?
Como disse, a experiência que tenho ao partilhar a poesia demonstra-o. Mas foi sempre assim, desde Homero aos provençais, até à minha geração. Se as sessões que fiz funcionaram, resta saber como acontecerá com a palavra escrita?

A primeira parte de Bairro Ocidental tem poemas de desespero e indignação. Foi com esses sentimentos que os escreveu?


Foi. No Bairro Ocidental são poemas zangados, porque é como nos sentimos. Eu vivi um tempo de ditadura e de guerra colonial, em que o inimigo era conhecido e visível. Agora é mais complicado pela globalização e o pensamento único. As palavras estão contaminadas e a função da poesia é descontaminar a linguagem. Há um défice de cultura e de sonho que é a função da palavra poética, afinal temos a nossa própria língua ocupada pela economia.


Não teme que versos como o “(…)Mundo um desacerto” sejam olhados como um saudosismo?

A saudade não é um pecado, mas esse “desacerto” de que falo é uma variação sobre o “Ao desconcerto do Mundo”, de Camões. É o que se passa com as pessoas, pois há muito individualismo, a juventude vive em pequenos grupos, e esse desconcerto acontece na própria arte.


Este livro não é um incitamento à rebelião?
Sim, como foi O Canto e as Armas (1967), que incita à revolta no sentido de recuperar a identidade e a própria poesia, a grande toada camoniana e a dos cancioneiros dos poetas modernos, do Cesariny até à Sophia. Que se perde quando o espaço europeu nos obriga a não sermos nós próprios. Não podem cortar quem somos, daí que incite à revolta porque estou profundamente revoltado.


A primeira parte do livro mostra-o bem irritado…
Não é irritado, alguém escreveu que há neste livro uma causa e uma reflexão sobre o nosso destino, que é preciso recuperar tal como a liberdade. Por essa razão é que também existem poemas preocupados com uma reflexão sobre a própria poesia.


Não é de intervenção este livro…
Pretende intervir poeticamente. Pelo que vejo de reacções, acho que as pessoas ouvem muito melhor estes poemas do que um discurso político. Há coisas que se podem exprimir poeticamente e que tocam o cerne das pessoas muito mais do que o discurso político. 


Até porque hoje podiam exigir-lhe um visto prévio?

Isso foi uma infelicidade do grupo parlamentar do PS, que foi logo desmentida. Era uma estupidez.


Bairro Ocidental coincide com o lançamento do último livro de Herberto Helder. É bom sinal?
Herberto Helder e eu sempre fomos muito amigos desde a juventude. Curiosamente, o Herberto no fim escreveu poemas que tinham que ver com a realidade concreta. A sua poesia, que tem uma dimensão cósmica, estava muito preocupada com a realidade – tanto que fala da botija de gás… Além daquele poema fantástico, “A elegia de um burro”.




Entrevista ao Diário de Noticias

João Céu e Silva


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