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Praça da Canção, por António Lobo Antunes
sexta-feira,  14  de  agosto  de  2015  |  12h:30

Praça da Canção, por António Lobo Antunes

Passei a Faculdade a escrever. Não estudava, não ia às aulas, houve exames a que nem sequer compareci. Ainda hoje me espanta a paciência com que o meu pai aturou isso tudo, ele que era muito autoritário e, por vezes, violento. Argumentava que queria ser escritor, não queria ser médico, soube muito mais tarde que o meu pai, para meu espanto, tinha a certeza que eu tinha talento embora não lhe mostrasse o que fazia: periodicamente queimava tudo junto à figueira do quintal, depois soube que ele ia lá sem me dizer nada, lia os restos que ficavam na cinza e copiava-os para um caderno verde. O meu pai possuía um respeito sagrado pelos artistas e talvez, na sua cabeça, pensasse que eu era um deles, enquanto eu, pouco mais do que um miúdo, vivia atormentado pelas minhas deficiências, sempre a dizer-me

– Ainda não é isto, ainda não é isto
e levei vinte anos a encontrar o que seria a minha voz, quando me apareceu a Memória de Elefante. Disse
– Ainda não é isto mas acho que descobri o caminho. E, depois, seguiu-se o trabalho de fazer crescer aquilo tudo. Mas, nessa altura, já havia terminado a Faculdade de Medicina, já havia passado mais de três anos na tropa, já vivera os horrores de África. Até então fora o tormento do curso, que o fez sofrer a ele e me aborrecia a mim. Mal começava a estudar pensava logo – Devia estar a escrever e voltava aos poemas péssimos e à prosa mais do que medíocre de que então era capaz, certo que, escondido, morava em mim um grande talento. Não certo, certíssimo, ao ponto de sacrificar fosse o que fosse à literatura. Pai, agradeço-lhe a paciência que teve para comigo, peço-lhe perdão de o haver humilhado com a miséria das minhas notas, agradeço que no fundo de si, embora nunca mo dissesse, me haja compreendido. A certa altura, a meio do curso, aconteceu uma coisa que me abalou muito. Era o final dos anos 60, em que os estudantes se levantavam contra a ditadura: cargas policiais, violência, prisões. Tudo isto me passou um bocado ao lado, entregue, como estava, à minha luta com as palavras. Um colega, no hospital, entregou-me, com grandes pedidos de segredo, um maço de folhas policopiadas. Na primeira página estava escrito Praça da Canção e, por baixo, o nome do autor, que nada me dizia: Manuel Alegre. Foi certamente o livro mais lido, mais comentado, mais entusiasmante, mais influente para a minha geração. Num segundo (pareceu-me que num segundo) tornou-se a bandeira dos estudantes contra o fascismo e a monstruosidade que vivíamos. Não me interessou a sua qualidade literária. Interessou-me a corajosa chama daqueles versos e o imenso coração do autor. Claro que Manuel Alegre era um poeta, não me ralou o tamanho do poeta que ele era, interessou-me o tamanho do que ele dizia. A ousadia com que fez arder uma geração inteira, e o incêndio que levantou sozinho. Uma ocasião, na fronteira com a Zâmbia, morreu-me um camarada. Só sei dizer assim: morreu-me, porque me morreu de facto. De imediato veio-me à cabeça um poema de Manuel Alegre
Ó meu amigo que nunca mais acenderás no meu o teu cigarro e comecei a chorar. Só quem passou por uma desgraça assim é capaz de entender isto até ao osso
Ó meu amigo que nunca mais acenderás no meu o teu cigarro.
Esta, e outras passagens do livro, ficaram comigo para sempre, ficarão comigo para sempre: que nunca mais acenderás no meu o teu cigarro.
Foi Manuel Alegre que o escreveu, e é a Manuel Alegre que o devo, porque se trata de uma prenda que nenhum dinheiro paga. Faz cinquenta anos que o livro surgiu, cinquenta anos de gratidão da minha parte. O Poeta mandou-me um exemplar comemorativo do aniversário do livro, com uma dedicatória cuja generosidade me tocou imenso. Manuel, não imaginas quanto estiveste comigo em África e quanto continuas comigo porque, em certo sentido, nunca saímos de lá. E tu ajudaste-me naquele exílio muito mais do que imaginas. Tenho pena que já não fumes porque o brinde que queria fazer-te agradecendo o muito que deste sem o saberes, ao estudantezinho anónimo que eu era, ao militar anónimo que eu fui, seria estender o meu cigarro para ti, dizer-te olhos nos olhos
Ó meu amigo que nunca mais acenderás no meu o teu cigarro
e esconder uma lágrima de homem para homem num chupão imenso. 

Autoria: António Lobo Antunes

 


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