segunda-feira, 30 de março de 2015 | 14h:30 Herberto Helder (1930-2015) Herberto Helder Luís Bernardes de Oliveira - poeta português de ascendência judaica, considerado o "maior poeta português vivo da segunda metade do século XX" até à data da sua morte, nasceu no Funchal a 23 de novembro de 1930 e faleceu em Cascais a 23 de março de 2015. Em 1994, foi-lhe atribuído o Prémio Pessoa pela sua obra que, segundo o júri, iluminava a língua portuguesa. Herberto Helder, no entanto, recusou a distinção, uma das mais importantes atribuídas em Portugal. Herberto Helder sempre se quis manter um poeta oculto e por isso pediu ao júri que não o anunciassem como vencedor e que dessem o prémio a outro. “Sempre que se pretendia fazer um documentário sobre ele, o Herberto telefonava aos amigos a pedir para não falarem. Não gostava de ruído nem espectáculo à sua volta. Foi assim em vida, e eu tenho a incómoda sensação de que aqui a pouco ele me vai pedir para não dizer nada sobre a sua morte. Direi sobre a nossa juventude, quando às vezes ele aparecia lá em casa em Coimbra, sem sequer se anunciar, trazendo consigo "os comboios que talvez fossem para Antuérpia". Ficava uns dias, punha-se um divã no meu quarto, líamos poemas em voz alta, lembro-me de ouvi-lo ler Camilo Pessanha, "Só, incessante, um som de flauta chora", esse verso que ficou para sempre dentro de mim, na voz dele, e que agora me apetecia repetir como uma litania para chorar a sua morte. Depois ele pegava numas folhas de papel quadriculado e escrevia pela noite adiante. Estava a acabar Os Passos em Volta e A Colher na Boca. Mais do que uma escrita nova, era algo diferente de tudo, uma revolução orgânica. Eu ouvia o deslizar da caneta no papel e guardo comigo essa toada, essa música que vinha de dentro do Herberto, onde o poema se fazia "contra a carne e o tempo". Pouco mais posso dizer. Herberto Helder é um dos maiores poetas da língua portuguesa e de qualquer literatura. Um amigo que encontrei na juventude e com quem sempre mantive afinidades e cumplicidades. O que me importa na sua poesia é ela mesma, a energia cósmica da sua linguagem e o que nela há de revelação do sagrado. Como ele próprio disse, "a poesia é uma forma de clandestinidade na ditadura do Mundo". Mas é ela que nos salva e nos redime. Podem levar-nos tudo, mas não os nossos grandes poetas, não Herberto Helder, aquele que em cada palavra trazia o universo todo” Artigo de Manuel Alegre, publicado em: https://www.facebook.com/manuelalegre2011 Voltar!